sábado, 4 de junho de 2011

Fragmentos

Faz quase um ano que não escrevo um destes... um fragmento retirado dos sonhos que guardei... talvez por ser demasiado subjectivo. Demasiado meu para partilhar... hoje será o segundo. Talvez porque decidi ficar na cama a recordar... embrenhada no doce toque da música que me envolve suavemente. O facto é que nem sempre fui assim. Fazer brotar palavras coloridas da ponta negra do lápis era um prazer, uma ambição... alguns preferiam bolas e bonecas... eu adorava os cadernos e livros. Quem sabe um prazer menos usual em crianças... Perdia-me na imensidão dos mundos que criava, vivia em fantasias e lugares de sonho... e perco-me. Mas já não exprimo tal perdição. Tal prazer. Porque há aquela receita antiga...

Aquela que diz que se sofreres demasiado acabas por te fechar ao mundo. Não está escrita, mas está lá. Eu vi. E eu, talvez por um excesso de me atirar de cabeça, talvez por ter tendência para as pessoas erradas sofri. E fechei-me em mim para me proteger. Porque sofrer cansa. E acabei por enterrar esse prazer, essa ambição de tirar mundos da ponta do lápis como o mágico que perante o olhar de admiração de todos tira o coelho de dentro da cartola vazia.

Alguns erros, algumas quedas... dois ou três joelhos arranhados, mãos esfoladas... e fiquei eu. Como sou agora: sarcástica, prática e objectiva. Porque sendo lógica tudo é mais simples e menos doloroso. É mais fácil dizer "Não, não me arrependo mas prefiro esquecer e seguir em frente." e é sinceramente mais fácil acreditar que não preciso de ninguém. É a tal receita que nos põe assim. Que nos faz perder a subjectividade e até certo ponto a humanidade também. Porque nós não somos máquinas mas por vezes sinto-me uma a ser tão racional. Não esqueci o meu coração. Não o arranquei. Mas visto ele estar tão disposto a guardar aquilo que a mente quer esquecer, visto ele não me ajudar a esquecer prefiro ignorá-lo. Porque... é mais fácil...

Ninguém te pode fazer sofrer sem que tu deixes. Quem escreveu isto não estava decerto a par de que não somos somente nós a controlar as portas do nosso coração. Antes de sabermos já ele deixou entrar a tal pessoa errada. Antes de sermos racionais e dar-mos ouvidos aquela vozinha já está o estrago feito e o coração, que teremos de montar, em cacos.

E se calhar é por isso que eu perdi aquela capacidade de ser simpática para com as pessoas espontâneamente. Se achar que é o correcto e o racional ainda sou simpática de forma natural... mas isso é mecânico certo? E é por isso que sou assim directa e franca. E é por isso que os meus posts são tão cortantes e sarcásticos e irónicos. É a tal receita. Aquela antiga.

«Ajuda-me a esquecer; ajuda-me a recordar... Não sei... já não sei»

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